Comunhão Nuca
Albanísio Ribeiro
A nossa forma de comunhão |
O
ar que respiramos à manutenção da vida está para a comunhão dos santos na
sustentação orgânica da igreja. Por
conta da busca desmedida do crescimento, prosperidade, o ativismo, o
pragmatismo religioso, o estilo de vida utilitarista, a noiva de Cristo está
gravemente enferma, arquejando, apesar de sua aparência suntuosa e triunfante.
A comunhão, bem diferente da neotestamentária, praticamente se resume nas
reuniões congregacionais, sentado atrás do irmão visualizando sua nuca, e o
pastor, ao fundo, entrincheirado no púlpito, gabinete, reuniões, livros,
programações, programações, programações... mais empresário que apascentador
de ovelhas. Termina o culto, trocamos meia dúzia de palavras e nos despedimos
com a ‘paz’, voltamos para nosso casulo, mundo imperceptível e desconhecido.
Esse raio x diagnóstica a síndrome da impessoalidade abatendo o corpo de
Cristo.
Como
seres humanos, carecemos de vida social, de relacionamentos. Nascemos,
crescemos e morremos em família, em coletividade. Muitos
não vivem essa naturalidade, sofrem por não compartilharem vida, e é aí que
surge o protagonismo comunitário da igreja como bálsamo. Essa é uma das facetas
do plano de Deus para nos proteger, a comunhão familiar, seja a natural ou a
espiritual. Como cristãos, com suas exceções, estamos perdidos neste
quesito.
Algumas
igrejas, almejando sair da UTI, estão tentando resgatar a comunhão, uma
oxigenação nova para continuarem vivas. Grupos pequenos, células, igrejas caseiras,
vida comunitária, cultos menos sofisticados e informais são alternativas para
alcançar à simplicidade que há em Jesus e uma luz à saída dessa impessoalidade
letal. Estão mudando de mentalidade, valorizando as relações individuais.
Todo
o ministério de Jesus, por exemplo, foi no corpo a corpo, de tempo integral.
Era no dia a dia, nas oportunidades cotidianas que Ele manifestava sua glória, seu
discipulado. A vivência em relacionamentos é uma terra fértil à ação do Espírito
para cura, libertação, ensinamento, gozo, crescimento, salvação e muitos outros
benefícios do Reino. Aquilo que aconteceu em atos 2. Percebe-se um gemer
silencioso do povo almejando relacionamentos. Uma carência emocional afetiva
crônica.
O
culto congregacional tem o seu espaço e valor. Os grupos pequenos também não
podem transformarem-se em mini cultos igrejeiros. Temos que ter sabedoria e
sensibilidade para transitarmos em qualquer ambiente valorizando o indivíduo
como um ser e não uma simples estatística.
Essa
comunhão de nuca face, nuca face orbita na impessoalidade que encontramos num
mundo alheio a Deus. O Reino do amor é face a face, olhos nos olhos,
compartilhando os universos individuais e fortalecendo a vida. Mudar este
paradigma é preciso, e comunhão nuca, nunca mais.